Terceiro círculo: o círculo da gula. Todos estão ali “per la dannosa colpa de la gola”, pela danosa culpa da gula. Cérbero, a mitológica fera de três cabeças, olhos vermelhos, despedaça os espíritos. Ali chove o tempo todo, com granizo, e a terra é um lamaçal fedorento onde as almas chafurdam – como porcos. A chuva eterna faz as almas uivarem como cães (“Urlar li fa la pioggia come cani”). Os uivos tremendos de Cérbero fazem com que os condenados preferissem ficar surdos. Dante conversa com Ciacco, um florentino. Este diz que em Florença só há soberba, inveja e avareza (“superbia, invidia e avarizia”) e faz previsões sobre as brigas políticas de Florença. Dante pergunta sobre o destino de alguns florentinos e Ciacco diz que eles estão mais abaixo.
Io sono al terzo cerchio, de la piova / etterna, maladetta, fredda e greve; / regola e qualità mai non l’è nova.
Grandine grossa, acqua tinta e neve / per l’aere tenebroso si riversa; / pute la terra che questo riceve.
Cerbero, fiera crudele e diversa, / con tre gole caninamente latra / sovra la gente che quivi è sommersa.
(Estou no terceiro círculo, da chuva / Eterna, maldita, fria e pesada / regra e qualidade que nunca é nova.
Granizo grosso, água suja e neve / através do ar tenebroso jorra; / fede a terra que isto recebe.
Cérbero, fera cruel e diferente, / com três gargantas, caninamente ladra / sobre as pessoas que ali estão submersas.)