Com tradução de Eunice Suenaga.
É um bom romance e recomendo a leitura. Melancólico e lento. Ademais, algumas questões são deixadas sem resposta, o que me incomodou. Há uma pequena dose de fantástico que me agradou.
Minha conclusão é de que Tsukuru Tazaki é de fato um indivíduo incolor, embora uma das personagens tente convencê-lo do contrário. Faltam a Tsukuru fibra, desejo e vontade.
Na juventude em Nagoia, Tsukuru fazia parte de um grupo de cinco amigos, três homens e duas mulheres, no qual todos, exceto ele, tinham nomes de cor, em japonês: Azul, Vermelho, Branca e Preta. Tsukuru foi estudar em Tóquio e em uma de suas visitas à Nagoia recebeu a comunicação, por parte de Azul, de que nenhum deles queria mais qualquer tipo de contato com Tsukuru. O motivo não foi declarado e Tsukuru não insistiu em saber, uma demonstração de sua falta de vivacidade. O rapaz ficou à beira do suicídio durante cerca de seis meses e depois começou uma lenta recuperação. Anos depois, aos trinta e tantos, Sara, uma moça com a qual ele estava começando a se relacionar, disse, ou impôs, que Tsukuru deveria resolver aquela situação do passado e descobrir o motivo de sua exclusão do grupo.
No ínterim, Tsukuru recorda do único amigo do tempo de universidade, após a exclusão do grupo, um amigo que repentinamente, sem explicação, desapareceu da vida de Tsukuru, sem deixar rastro ou recado. Parece que Tsukuru tem o dom de ser abandonado.
Tsukuru, então, procura seus ex-amigos, um a um. Azul diz a ele que o afastamento foi causado porque Branca disse ter sido estuprada por Tsukuru ao visitá-lo em Tóquio – o que foi uma grande mentira. Branca realmente foi estuprada e ficou grávida e fez um aborto, mas ela nunca se encontrou com Tsukuru em Tóquio. O motivo da mentira de Branca nunca saberemos, apesar de hipóteses serem levantadas. Os coloridos desconfiaram da história de Branca, mas nunca procuraram Tsukuru para esclarecer a questão. Branca, que estudou para ser pianista, nunca desenvolveu o talento e foi se afastando de todos. Por fim, morando em Hamamatsu, Branca foi assassinada. Quem estuprou e quem assassinou Branca? Não saberemos. Depois de conversar com Azul e Vermelho que ainda vivem em Nagoia, Tsukuru viaja para a Finlândia para conversar com Eri, a última que faltava. Eri diz que também não acreditava em Branca mas que tinha o dever de apoiá-la, visto que Branca estava muito frágil. Mesmo assim, elas se afastaram. Eri levanta a hipótese de que Branca era acompanhada permanentemente por um espírito mau – Eri também sentia uma influência negativa vindo de Branca o que a fez se afastar. Tsukuru imagina que – em outro plano da existência – ele mesmo teria estuprado e matado Branca – Tsukuru costumava ter sonhos eróticos com Branca – mas essa fantasia me parece bastante absurda. Gosto da hipótese de Eri e gosto, também, de pensar que foi Vermelho quem estuprou e matou Branca – apesar de vermelho ter se descoberto homossexual após o casamento e separação. Vermelho foi o único que visitou Branca em Hamamatsu e eu vejo nele a capacidade de fazer algo violento para saber como seria. Por fim, o romance termina com Tsukuru esperando um encontro com Sara no qual ela vai decidir se continuam o relacionamento, visto que Sara parece ter outro namorado. Na minha opinião, Sara também vai abandonar o rapaz incolor. Portanto, é um romance que agrada e desagrada, visto que é uma boa história, um pouco lenta é verdade, mas na qual restam muitas perguntas: por que Haido, o amigo universitário, desapareceu da vida de Tsukuru; quem estuprou e quem matou Branca; por que Branca cometeu tamanha injustiça com Tsukuru. Jamais saberemos.
Trechos:
“Na minha opinião, a verdade é como uma cidade soterrada na areia. Em alguns casos a areia se acumula com o tempo, e em outros ela é soprada para longe e a cidade mostra gradualmente a sua forma.”
“Você não acha um grande paradoxo? Ao longo da vida, descobrimos aos poucos o nosso verdadeiro eu. E, quanto mais descobrimos, mais nos perdemos.”
“— É uma pena, mas no mundo da arte isso acontece muito. O talento é como um tipo de recipiente. Por mais que a pessoa se esforce, é difícil mudar o seu tamanho. E nele não cabe água acima de uma determinada quantidade.”
“Os longos trens que chegam e partem em ciclos de alguns segundos vomitam as pessoas sistematicamente como se fossem gado acostumado e paciente, […] Quantas horas da vida são tomadas em função da locomoção (provavelmente) sem sentido e desaparecem? Em que medida esse tempo esgota e desgasta as pessoas?”
“E, naqueles momentos, a sombra vaga do pai lhe vinha à mente. Para falar a verdade, não se lembrava bem dele, nem sentia uma saudade especial. Não se lembra de ter saído com ele ou de ter tido uma conversa íntima com ele, nem na infância nem depois de adulto.”