Rimas da vida e da morte, Amós Oz

Rimas da vida e da morte, Amós Oz, 2007, tradução de Paulo Geiger, 118 páginas.

Li faz tempo “A caixa-preta”, do mesmo autor, e gostei muito. Este “Rimas” não está no mesmo patamar. Deixa-se ler e não é ruim. Mas é aborrecido e não sai do canto. Parece que o próprio autor estava em crise sem saber o que escrever e inventou este texto. Nele há um escritor que observa as pessoas de seu entorno e cria biografias e histórias em torno delas. A novela não resulta, não atinge qualquer objetivo. A melhor parte é encontro sexual entre o escritor e a personagem Ruchale, real ou imaginário. De todo modo, vale a pena, há bons trechos e boas reflexões.

Resumo:

Um escritor vai dar uma palestra em um centro comunitário, chega antes, vai a um café. Ele antevê as perguntas repetidas de sempre que se fazem aos escritores naquele tipo de encontro. O escritor imagina nomes e histórias para a garçonete e alguns clientes.

Na palestra, cita-se o livro “Rimas da vida e da morte” de um poeta israelense quase esquecido – livro e poeta inventados, como fazia Borges. O escritor lança um olhar cruel sobre a plateia e imagina as vidas medíocres e miseráveis de alguns dos espectadores. As vidas inventadas do pessoal do café e do pessoal da palestra vão sendo elaboradas pelo escritor ao longo do livro, de forma incompleta e sem um objetivo específico – como se o autor, ou o escritor, estivessem mostrando como se criam personagens e histórias.

Alguns trechos do livro do escritor são lidos durante a palestra por Ruchale, uma leitora “profissional”. Ao final da palestra, o escritor tenta seduzir Ruchale em uma pequena caminhada pela vizinhança, mas desiste. Ruchale mora só em um apartamento quase em frente ao centro comunitário.

O escritor descreve então como volta ao prédio de Ruchale, mais tarde, e vai ao apartamento dela. Ruchale tem uma coleção de quase duzentas caixas de fósforos de hotéis de diversos países, hotéis e países em que nunca esteve. Isto me fez recordar “O Museu da Inocência” de Orhan Pamuk. A melhor parte do livro surge quando o autor-escritor narra o medo de Ruchale (peitos quase inexistentes), medo do escritor, de falhar, de murchar. Entre subidas e descidas, o escritor consegue fazer Ruchale gozar com a boca, mas murcha de vez e vai embora.

O escritor caminha pelas ruas e medita sobre os personagens, a razão de escrever, por que escrever, para quê descrever as coisas – a crise do autor-escritor. Ele continua a tecer hábitos, características, detalhes dos personagens, mas isso não resulta, nem atrai muito interesse. O homem desempregado que cuida da mãe doente e dorme na mesma cama que ela. O jovem que se julga poeta e que esperava a ajuda e o olhar do escritor. O escritor tem ânsia de vômito ao imaginar o homem cuidando da mãe doente.

O autor-escritor descreve como Ruchale passou a noite só e melancólica – outra situação possível. O escritor se deita para dormir, são quatro horas da manhã. Descobre no jornal que o poeta do livro “Rimas” morreu no dia anterior aos 97 anos. Fim.

Trechos:

“E às vezes ele publicava um curto epigrama sobre mortos já esquecidos por todos e só raramente lembrados por seus filhos e netos, e mesmo essa lembrança não era mais do que uma sombra passageira, pois com a morte da última pessoa que se lembra dele o morto morrerá uma segunda morte, uma derradeira morte, como se não tivesse vivido.”

“[…] até que seus dedos saíram à procura dos seios dela por cima do tecido da camisola e ela tomou e encerrou na palma da mão os dedos tateantes e os afastou desse peito pequeno que só a envergonha sempre toda a vida. E como que lhe dando uma compensação imediata por esse afastamento, com a mão conduziu-lhe os dedos e os pousou em seu ventre.”

“Ele, por seu lado, tinha medo – como sempre – do próprio desejo, capaz de murchar de repente sem aviso prévio, como já lhe acontecera algumas vezes, e como ele iria encarar isso? O que ela iria pensar de si mesma? E dele?”