Charlotte Fox, montanhista

Charlotte Fox, montanhista. Nasceu em 10 de maio de 1957. No dia 10 de maio de 1996, seu aniversário de 39 anos, ela se perdeu na descida do Everest, em meio a uma tempestade. Os fatos são narrados no livro de Jon Krakauer, No ar rarefeito. Charlotte e outros montanhistas passaram a gélida noite perdidos e, no dia seguinte, foram conduzidos ao acampamento mais próximo. Alguns foram deixados para morrer pois estavam perto da morte por congelamento. Nos anos seguintes, Charlotte continuou escalando. No início do mês de maio de 2018, aos 61 anos, ela retornou de sua mais recente escalada, a montanha Baruntse, de 7.129 metros. No dia 26 de maio de 2018, Charlotte Fox caiu da escada de sua casa e morreu.

No ar rarefeito, Jon Krakauer, 1997

No ar rarefeito, Jon Krakauer, 1997, Companhia das Letras, 267 páginas, tradução de Beth Vieira.

Já havia lido o livro não sei quando, acho que em 1998, e peguei para reler. Ótimo livro, quatro estrelas na minha classificação. O jornalista e montanhista Jon Krakauer participou de uma expedição comercial ao Everest, em 1996. Tais expedições são organizadas em uma forma mais ou menos “pagou-vai”. O cliente paga lá uma montanha de dólares e vai para o Everest, evidentemente sem a garantia de que conseguirá chegar ao topo. Dessa forma, a montanha mais alta do mundo fica lotada na alta temporada, uma fileira de gente esperando sua vez de subir mais um pouquinho. Por azar dos montanhistas naquele ano, uma tempestade e uma série de decisões equivocadas dos líderes ocasionou a morte de uma dúzia de pessoas. Krakauer chegou ao topo, desceu antes da tempestade e sobreviveu para escrever a história. Penso que os líderes erraram demais, perderam as próprias vidas por isso, e erraram principalmente em não observar a hora limite para desistir do topo e começar o retorno. Vale muito a pena conhecer essa história e deu vontade de ler outros livros sobre a expedição de 1996 e sobre o Everest em geral.

Primeiro parágrafo:

Montado no topo do mundo, um pé na China, outro no Nepal, limpei o gelo de minha máscara de oxigênio, curvei o ombro para me proteger do vento e fixei o olhar distraído na vastidão do Tibete. Compreendia, em algum recanto obscuro e distante da mente, que aquela imensidão sob meus pés era uma visão espetacular. Durante meses a fio, eu tecera fantasias sobre esse momento, sobre as intensas emoções que o acompanhariam. Porém, agora que estava finalmente ali, de pé sobre o cume do monte Everest, não conseguia juntar energia suficiente para me dar conta do feito.

Trechos:

As transformações na cultura do Khumbu com certeza não foram todas para melhor, porém não vi muitos sherpas lamentando as mudanças. A moeda forte levada por trekkers e alpinistas, bem como as verbas fornecidas pelas organizações internacionais de auxílio, sustentadas por esses mesmos esportistas, custearam escolas e clínicas médicas, reduziram a mortalidade infantil, construíram pontes suspensas e levaram energia elétrica até Namche e outras aldeias. Parece-me uma atitude meio arrogante da parte dos ocidentais lamentar o fim dos velhos bons tempos, quando a vida no Khumbu era tão mais simples e pitoresca. Grande parte das pessoas que vivem nessa região acidentada não parece desejosa de permanecer isolada do mundo moderno ou do fluxo desordenado do progresso humano. A última coisa que os sherpas querem é viver preservados como espécimes de um museu antropológico.

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Os três ou quatro banheiros de pedra da aldeia estavam literalmente transbordando de fezes. As latrinas eram tão abomináveis que a maioria, nepaleses e ocidentais, preferiam evacuar a céu aberto, sempre que a necessidade surgisse. Havia imensas pilhas fedorentas de fezes humanas por toda parte, era impossível não pisar nelas. O rio de neve derretida que serpenteava pelo centro da aldeia era um esgoto a céu aberto.

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Como o vento tivesse apagado as pegadas dos alpinistas que desceram antes de mim, eu tinha dificuldade em determinar a rota correta. Em 1993, o parceiro de Mike Groom (…) tomara um atalho errado nessa área, caíra e morrera. Lutando para manter um pé na realidade, comecei a falar sozinho em voz alta. “Não dê bobeira agora, não dê bobeira agora, não dê bobeira agora”, eu entoava vezes e vezes, como se fosse um mantra. “Você não pode foder tudo aqui em cima. Isto é muito sério. Não dê bobeira.”

No ar rarefeito, Jon Krakauer, 1997

No ar rarefeito, Jon Krakauer, 1997, Companhia das Letras, 266 páginas, tradução de Beth Vieira.

Primeiro parágrafo:

“Montado no topo do mundo, um pé na China, outro no Nepal, limpei o gelo de minha máscara de oxigênio, curvei o ombro para me proteger do vento e fixei o olhar distraído na vastidão do Tibete. Compreendia, em algum recanto obscuro e distante da mente, que aquela imensidão sob meus pés era uma visão espetacular. Durante meses a fio, eu tecera fantasias sobre esse momento, sobre as intensas emoções que o acompanhariam. Porém, agora que estava finalmente ali, de pé sobre o cume do monte Everest, não conseguia juntar energia suficiente para me dar conta do feito.”