Contra os deuses

Um dos melhores aspectos dessa pandemia é a ausência de religião. Em outros séculos, em outras épocas, mesmo em décadas iniciais do século vinte, aconteceriam inúmeras procissões, missas, cultos, para que o “divino” fizesse cessar a praga, ajudasse os desvalidos. Agora, veem-se igrejas, templos, terreiros vazios, um papa que reza isolado para salas vazias, para a praça de São Pedro às moscas. É possível que apenas a ficção científica, como por exemplo “O fim da infância” de Arthur Clarke, tenha aventado tal hipótese de decréscimo e descrença da religião. De nada serve a crença tola contra o ataque biológico de um vírus. É evidente, ainda, que alguns “líderes” religiosos devem estar preocupados, mesmo desesperados, com a abrupta queda na arrecadação. Quem sabe os deuses permitam que após a crise, após um ou mais meses sem religião, a gente desperte para um mundo mais laico, mais pragmático.