Diário do Farol – João Ubaldo Ribeiro (2002)

Diário do Farol – João Ubaldo Ribeiro (2002) – Editora Nova Fronteira – 303 páginas.

Para mim, o que ficou de mais marcante sobre este livro de João Ubaldo foi a aparente falta de revisão. Até o meio do livro, a escrita parece que vai bem. Do meio em diante, há uma ou outra frase incompreensível e algumas repetições. Parece um livro que o autor deixou em estado bruto, ou seja, que ele ainda iria submeter a novo escrutínio e novas reescritas. Quem sabe se foi assim mesmo?

De todo modo, é um livro mediano, não um dos melhores de Ubaldo. Em grande parte, a trama do livro é Hamlet com papéis trocados. Hamlet, de William Shakespeare, conta a história do jovem príncipe cujo pai, o rei, foi morto pelo próprio irmão, tio de Hamlet, em conluio com a esposa do rei, a mãe do príncipe. Dessa forma, Cláudio, o usurpador e assassino, ficou com o trono e a mulher do rei. Hamlet é atormentado pela suspeita do assassinato e, posteriormente, o fantasma do pai confirma suas suspeitas e pede vingança. Para quem não sabe, o livro termina em um banho de sangue, morre todo mundo, tragédia é tragédia.

O livro de Ubaldo, por sua vez, conta a história de um menino, filho único de um rico fazendeiro, cuja mãe foi assassinada pelo marido que logo depois se casa com a própria cunhada. O menino alimenta suspeitas sobre a morte “acidental” da mãe e, posteriormente, o fantasma de sua mãe confirma o assassinato, a usurpação e exige vingança. A presença da mãe acompanha o menino por quase toda a vida dele. O menino é odiado pelo pai, que o considera um fracote, e pela tia, então madrasta, e é enviado para um seminário no qual se tornará padre. Entretanto, ele não esquecerá a vingança. A tia-madrasta teve uma filha e depois um filho, o varão pelo qual o pai ansiava. No parto do filho, a tia morreu e não foi preciso executar uma vingança contra ela. Quanto aos dois novos filhos de seu pai, o rapaz seminarista cuida de envenená-los e eles morrem. O seminarista não deixou pistas do envenenamento, mas o pai sempre soube que ele fora o assassino. O rapaz vai evoluindo no seminário, no qual vai se ordenar. Nesse trajeto, ele completa sua vingança e mata o pai. Não há surpresa no relato, visto que o fantasma da mãe continuava a exigir vingança e o rapaz alimentava permanentemente o desejo de acabar com a vida do pai.

Paralelamente, o rapaz relata a putaria que é a vida no seminário, onde os padres se divertem sexualmente com os noviços ou com mulheres. Por fim, o rapaz se apaixona por uma moça que não lhe corresponde. No futuro, ordenado padre, ele irá cuidar de matar a moça e o marido dela. Apesar de parecer uma trama violenta e apaixonada, o livro é divertido, embora mal alinhavado, esgarçado e artificial. Entretanto, uma leitura interessante, apesar de seus defeitos.