Não gostei do livro, mas vale a pena ler. Em geral, Updike está acima da média de qualquer livrinho que se encontra por aí, mesmo quando não esteve em seus melhores dias. O tema do livro é o preferido de Updike, a vida sexual das cidadezinhas norte-americanas. Neste sentido, o Cidadezinhas, que li dele, é muito melhor que este. Não gostei da tradução, em geral, e especialmente não gostei da tradução do título. O livro se chama Marry me, em inglês, assim sem interrogação. Ou seja, é um pedido e não uma pergunta. É “case comigo” ou, o mais enfatuado “despose-me”.
Ruth e Jerry são casados e têm três filhos. Sally e Richard são casados e têm três filhos. A história descreve o relacionamento entre esses dois casais na cidadezinha de Greenwood, próxima de Nova York, durante um verão de final da década de 1960.
O livro é quase um documento arqueológico, visto que praticamente não existe mais o tipo de mulher que fica em casa e cuida dos filhos e das refeições, como fazem Ruth e Sally. Em dado momento do romance, Ruth já cansada dos problemas entre os quatro, diz algo como “se a gente tivesse uma ocupação, um trabalho de verdade, não estava aqui nessa discussão inútil”.
Jerry apaixona-se por Sally e eles mantêm um caso durante o verão. Ruth e Richard não sabem do caso. Richard é o garanhão da história, já teve vários casos e dá em cima de Ruth. Ruth decide experimentar e têm um caso curtinho com Richard. Perto do fim do verão, o caso entre Sally e Jerry torna-se público e os dois casais tentam resolver a situação. O caso breve e encerrado entre Ruth e Richard ficou em segredo, eles são mais espertos e mais discretos.
Jerry é um covarde, um cara fraco com medo de tomar decisões. Sally é mimada, riquinha e mentirosa. Richard é um personagem mais firme e mais corajoso. A melhor personagem é Ruth, forte, decidida, apesar de ser condescendente demais com o Jerry banana. O livro se arrasta em muitas ocasiões, mas tem trechos e situações interessantes. Por exemplo, quando a parte sexual do casamento de Jerry e Ruth se torna melhor, mesmo enquanto cada um não sabe dos amantes respectivos.
Vale a pena ler, apesar de ser um livro menor de Updike.
Trechos:
“Desde o começo do caso, Jerry estava sempre correndo, apressando-se, inventando tempo onde tempo nenhum antes era preciso; ele tinha se tornado um atleta do relógio, torcendo horários extravagantes para fazer uma insuspeita segunda vida.”
“No todo, Ruth tinha ficado bem satisfeita com seu caso, e, enquanto fechava o zíper dos casacos de neve das crianças, ou colocava um assado no forno, pensava nessa aventura guardada em seu passado com certa complacência. Ela se considerava melhor e mais profunda mais ou menos na medida normal — tinha enfrentado o perigo e conquistado sabedoria, saindo uma mulher mais completa e tolerante. Tinha tido namorados, um marido, um amante; parecia que podia descansar.”
“Você é a morte. Muito calma, muito pura, muito remota. Nada que eu possa fazer vai realmente mudar você. Nem ser uma grande diversão para você. Estou casado com a morte.”
“Então, por definição, Ruth só podia conversar com Jerry; seu assassino era seu único confidente. À medida que ela o estudava, que o conhecia como o amante de outra mulher, possibilidades que ela tinha suprimido nos primeiros choques iam adquirindo uma fria figura em sua mente. Era possível que ela não o amasse, era possível que ela logo fosse perdê-lo. O sexo entre eles melhorou muito.”