Coelho corre – John Updike (1960)

Coelho corre – John Updike (1960) – Editora Planeta de Agostini – 372 páginas. Título original: Rabbit run. Tradutor: Paulo Henriques Britto.

Não gostei, não recomendo. Não compreendo o motivo de este livro de Updike ter se tornado relativamente famoso. O personagem principal, Coelho Angstrom, é um cara imaturo e covarde. Não é possível estabelecer qualquer nível de empatia com o tal Coelho, que foge de tudo, nem com nenhum dos personagens da história. O Coelho só faz correr, fugir dos compromissos. Casado, um filho, a esposa grávida, ele foge de casa sem qualquer planejamento, ajeita-se com outra mulher que engravida, volta para a esposa, foge da esposa, volta para a esposa, foge da esposa, reencontra a outra mulher grávida, foge dela.

Outro aspecto incômodo do livro é a montanha-russa de emoções que o autor descreve. Em um momento, um personagem ama, no momento seguinte sente asco, no momento seguinte indiferença.

De todo modo, é uma história quase arqueológica, de um tempo em que mulheres ficavam em casa para cuidar dos filhos e em que todos têm “tufos” ou “arbustos” de pelos no púbis, como diz o autor. Outro aspecto arqueológico é o fato de Janice, grávida, beber e fumar. Cabe destacar a falta de banhos de Coelho, que deve ou devia ser também a do norte-americano médio. Coelho gosta de vestir uma roupa limpa sem tomar banho. Ele se sente sujo e suado, com a roupa íntima úmida. A solução é vestir uma roupa limpa e seca. Banho nem pensar. Coelho usa uma camisa uma única vez e a camisa fica com o colarinho preto, imagine-se o grude do rapaz. Entra no banheiro, passa água nos braços e no rosto, banho nada. Péssimo livro.

Quer casar comigo? – John Updike (1976)

Não gostei do livro, mas vale a pena ler. Em geral, Updike está acima da média de qualquer livrinho que se encontra por aí, mesmo quando não esteve em seus melhores dias. O tema do livro é o preferido de Updike, a vida sexual das cidadezinhas norte-americanas. Neste sentido, o Cidadezinhas, que li dele, é muito melhor que este. Não gostei da tradução, em geral, e especialmente não gostei da tradução do título. O livro se chama Marry me, em inglês, assim sem interrogação. Ou seja, é um pedido e não uma pergunta. É “case comigo” ou, o mais enfatuado “despose-me”.

Ruth e Jerry são casados e têm três filhos. Sally e Richard são casados e têm três filhos. A história descreve o relacionamento entre esses dois casais na cidadezinha de Greenwood, próxima de Nova York, durante um verão de final da década de 1960.

O livro é quase um documento arqueológico, visto que praticamente não existe mais o tipo de mulher que fica em casa e cuida dos filhos e das refeições, como fazem Ruth e Sally. Em dado momento do romance, Ruth já cansada dos problemas entre os quatro, diz algo como “se a gente tivesse uma ocupação, um trabalho de verdade, não estava aqui nessa discussão inútil”.

Jerry apaixona-se por Sally e eles mantêm um caso durante o verão. Ruth e Richard não sabem do caso. Richard é o garanhão da história, já teve vários casos e dá em cima de Ruth. Ruth decide experimentar e têm um caso curtinho com Richard. Perto do fim do verão, o caso entre Sally e Jerry torna-se público e os dois casais tentam resolver a situação. O caso breve e encerrado entre Ruth e Richard ficou em segredo, eles são mais espertos e mais discretos.

Jerry é um covarde, um cara fraco com medo de tomar decisões. Sally é mimada, riquinha e mentirosa. Richard é um personagem mais firme e mais corajoso. A melhor personagem é Ruth, forte, decidida, apesar de ser condescendente demais com o Jerry banana. O livro se arrasta em muitas ocasiões, mas tem trechos e situações interessantes. Por exemplo, quando a parte sexual do casamento de Jerry e Ruth se torna melhor, mesmo enquanto cada um não sabe dos amantes respectivos.

Vale a pena ler, apesar de ser um livro menor de Updike.

Trechos:

“Desde o começo do caso, Jerry estava sempre correndo, apressando-se, inventando tempo onde tempo nenhum antes era preciso; ele tinha se tornado um atleta do relógio, torcendo horários extravagantes para fazer uma insuspeita segunda vida.”

“No todo, Ruth tinha ficado bem satisfeita com seu caso, e, enquanto fechava o zíper dos casacos de neve das crianças, ou colocava um assado no forno, pensava nessa aventura guardada em seu passado com certa complacência. Ela se considerava melhor e mais profunda mais ou menos na medida normal — tinha enfrentado o perigo e conquistado sabedoria, saindo uma mulher mais completa e tolerante. Tinha tido namorados, um marido, um amante; parecia que podia descansar.”

“Você é a morte. Muito calma, muito pura, muito remota. Nada que eu possa fazer vai realmente mudar você. Nem ser uma grande diversão para você. Estou casado com a morte.”

“Então, por definição, Ruth só podia conversar com Jerry; seu assassino era seu único confidente. À medida que ela o estudava, que o conhecia como o amante de outra mulher, possibilidades que ela tinha suprimido nos primeiros choques iam adquirindo uma fria figura em sua mente. Era possível que ela não o amasse, era possível que ela logo fosse perdê-lo. O sexo entre eles melhorou muito.”